04/04/2024

Eu nunca me senti tão só.


Crianças, 
Como vocês devem saber à essa altura, a vida é repleta de acontecimentos totalmente imprevisíveis - existem poucos eventos que temos a capacidade de prever: o término do meu relacionamento de 3 anos e meio era um desses poucos. Mesmo tendo consciência de que pessoas terminam namoros até mais longos que esse período, 3 anos não deixa de ser algo significativo. Nós passamos muito tempo juntos, nos falávamos todos os dias desde o "bom dia" ao "boa noite", escutávamos um ao outro desabafar, dividíamos as mágoas e compartilhávamos as conquistas - da forma clichê que qualquer casal faz (ou, pelo menos, deveria). Ambos passaram por mudanças com o passar do tempo - amadurecemos e acompanhamos diversas fases um do outro. Até que o fim veio: repentino e ao mesmo tempo, premeditado. Não desejado e ao mesmo tempo, inevitável. Nesse próximo mês, iremos completar 6 meses separados. Confesso que doeu no começo, depois senti uma espécie de alívio por estar só. Poderia aproveitar minha própria companhia, ter um tempo apenas para mim: descobrir quem eu era realmente, o que eu queria para a minha vida - minhas metas, propósitos, sonhos e valores. 
Apesar de ter aproveitado esses momentos de lucidez e otimismo, atualmente, ando tendo algumas recaídas - choro repentino, sensação de vazio, lembranças do relacionamento e vontade de estar com alguém. Não alguém específico, apenas alguém. 
Isso me fez pensar o quanto o ser humano consegue tolerar pouco a sua própria companhia. Ele cansa rapidamente de si e sente anseio de cravar outrem com as próprias mãos, afim de esquecer quem é - ou com medo de descobrir quem realmente é. Faz apenas 6 meses. Sei que ainda não estou pronta para um novo relacionamento após o turbilhão de emoções que fora o término e o relacionamento como um todo; mas ainda assim, desejo amar. Me apaixonar. Como a alma de um poeta anseia pela dor, pelo vida boêmia, pela melancolia. A alma de um romântico incurável enxerga no outro o seu único remédio; o único antídoto que pode salva-lo da dor de ser quem é. Da dor de ser.
Não irei terminar esse texto de forma otimista como a maioria dos meus escritos. Não há uma mensagem por trás da história. Apenas alguém que está perdido no mundo, completamente corroído pela ausência de alguém que ela nem sabe quem é - talvez ela ainda nem tenha o conhecido. Apenas me cabe à ausência do sentimento que nos surge no peito quando nos sentimos amados por alguém. O ser humano busca amor como a vida busca a morte: Inconscientemente e fatalmente. 

...


Comparação.



A dor de me ser me corrói a cada instante. A cada segundo me sinto mais desconfortável embaixo de minha própria pele, como se ela me envolvesse em um abraço claustrofóbico. Comparar-se a outras garotas tornou-se habitual. Inevitável. Infindável. Seus traços são angelicais. Suas vozes são doces e afáveis. Sua inteligência é vasta. Seus talentos são inúmeros: Algumas cantam e tocam algum instrumento como se tivessem sido presenteadas com o dom de encantar. Outras interpretam eximiamente, desenham com traços precisos, escrevem como se a alma delas implorasse pela prece silenciosa que é a poesia. E eu? Bom, eu tento me contentar com minha mediocridade, sussurrando para meu eu que está tudo bem não ser alguém. Está tudo bem movimentar-se pesadamente ao dançar, esquecer os passos e tropeçar nos seus próprios pés. Está tudo bem ter uma voz que ninguém anseia por ouvir. Tudo bem não saber fingir ser alguém que não é, mesmo em cima de um palco sob os holofotes. Está tudo bem desenhar livremente, rabiscar e apenas acumular rascunhos com traços grossos e sem técnica alguma. Está tudo bem escrever como você escreve - de forma não linear, demasiado simplória e regada ao otimismo aterrador que te envolve. Mas não hoje. Hoje todas as versões que eu poderia ser me envolvem e me sufocam. Por hoje, eu abro meu coração para a dor causada por tudo o que sei que nunca me tornarei.